terça-feira, 8 de julho de 2014

** O Globo- 23-6-14

Conte algo que não sei
 ‘Eles exibem ângulos que quem enxerga não vê’
Shayane Lima, fotógrafa

"Tenho 24 anos, sou bacharel em fotografia pelo Centro Universitário do Senac-SP, e fiz intercâmbio de um ano em Arles, na França.
Desde 2009 dou aulas de fotografia para deficientes visuais. A experiência mudou completamente minha perspectiva de vida e minha capacidade de perseverar"

Entrevista a André Machado

— Conte algo que não sei.
Shayane - Os deficientes visuais podem não enxergar, mas formam imagens em sua mente. Foram dois deles, à época trabalhan­do no Espaço Braille\do Senac­ SP, que pediram para aprender a fotografar, em 2008. Assim começou o projeto. A fotogra­fia, para eles, tem um fator so­cial, de interação, e de contex­tualização da realidade.

— Como alguém sem noção da luz pode fotografar?
Shayane - Mesmo sem ver, eles perce­bem o que está à volta. Nem to­dos são deficientes congênitos, há muitos com cegueira adqui­rida, que têm memória da ima­gem, da cor. Mesmo os congê­nitos formam imagens nos so­nhos. Às vezes, na foto, eles exibem ângulos da realidade que quem enxerga não vê.

— Como usam os sentidos?
Shayane - Por meio do tato, podem sen­tir o calor ou frio de determinado local ou superfície. Os chei­ros os inspiram. E a audição in­flui. Um aluno pediu a um ami­go que caminhasse por uma rua sem recursos de acessibilidade, para fazer uma foto-denúncia. Ele andou e deu uma cabeçada num orelhão, gritando "Ai!" Nessa hora, foi feita a foto!

— Como você os sensibiliza para perceberem imagens?
Shayane - Toco uma fita com sons do cotidiano, de rua, de alguém fazendo café ou cortando pão. Temos materiais com relevos diferentes para ensinar ângu­los, primeiro plano, segundo plano. Uma parede pode ter textura áspera, o céu, lisa. Para fazer um retrato de alguém, o aluno conversa e, pela altura da voz, calcula a distância para close ou plano americano.

— Como eles conseguem ma­nusear o equipamento?
Shayane - Começamos com câmeras digitais bem simples, e eles aprendem a localizar e usar os botões. Podemos colar adesi­vos na câmera para indicar di­ferentes funções.
No caso de smartphones, usam-se aplica­tivos de comandos de voz e, no computador, softwares vocais para a edição e a postagem. Os deficientes visuais são ativos também nas redes sociais e postam direto no Instagram. A posição em que usam as câme­ras não é necessariamente di­ante dos olhos. Alguns as posi­cionam sob o queixo, para ni­velar a imagem.

— Por que um deficiente visu­al desejaria fazer imagens que não poderá ver?
Shayane - Para eles, é uma questão de contextualizar e, também, de memória. Querem tirar fotos dos filhos para mostrar a ou­tras pessoas. Também querem ser independentes ao criar su­as próprias imagens em via­gens. Há uma função social importante: ao fotografar, ge­ralmente perguntam a quem está por perto o que há por ali, o que foi aquele som, o que es­tá acontecendo, e tentam cap­turar o momento. Na hora de mostrar a terceiros, relembram os momentos. É uma forma di­ferente de fruição.

— Esse processo mudou você?
Shayane - Muito. Minha perspectiva da vida se transformou. Todos os dias, vi novas possibilidades de encarar a existência com per­severança. Uma aluna era cos­tureira e, ao ficar cega, se rein­ventou como massoterapeuta. Mergulhou tanto na fotografia que quis comprar um equipa­mento profissional.

— E o curso em Niterói, quan­do vai começar?
Shayane -  Ainda estamos planejando. Pretendemos, depois da Copa, iniciar um ‘crowdfunding’. A ideia é fazer um curso de três meses, com uma exposição dos alunos no fim.

[Crowdfunding’ - financiamento coletivo para arrecadação de fundos.]

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