** O Globo- 23-6-14
Conte algo que não sei
‘Eles exibem ângulos que quem enxerga não vê’
Shayane Lima, fotógrafa
"Tenho 24 anos, sou bacharel em fotografia pelo Centro Universitário do Senac-SP, e fiz intercâmbio de um ano em Arles, na França.
Desde 2009 dou aulas de fotografia para deficientes visuais. A experiência mudou completamente minha perspectiva de vida e minha capacidade de perseverar"
Entrevista a André Machado
— Conte algo que não sei.
Shayane - Os deficientes visuais podem não enxergar, mas formam imagens em sua mente. Foram dois deles, à época trabalhando no Espaço Braille\do Senac SP, que pediram para aprender a fotografar, em 2008. Assim começou o projeto. A fotografia, para eles, tem um fator social, de interação, e de contextualização da realidade.
— Como alguém sem noção da luz pode fotografar?
Shayane - Mesmo sem ver, eles percebem o que está à volta. Nem todos são deficientes congênitos, há muitos com cegueira adquirida, que têm memória da imagem, da cor. Mesmo os congênitos formam imagens nos sonhos. Às vezes, na foto, eles exibem ângulos da realidade que quem enxerga não vê.
— Como usam os sentidos?
Shayane - Por meio do tato, podem sentir o calor ou frio de determinado local ou superfície. Os cheiros os inspiram. E a audição influi. Um aluno pediu a um amigo que caminhasse por uma rua sem recursos de acessibilidade, para fazer uma foto-denúncia. Ele andou e deu uma cabeçada num orelhão, gritando "Ai!" Nessa hora, foi feita a foto!
— Como você os sensibiliza para perceberem imagens?
Shayane - Toco uma fita com sons do cotidiano, de rua, de alguém fazendo café ou cortando pão. Temos materiais com relevos diferentes para ensinar ângulos, primeiro plano, segundo plano. Uma parede pode ter textura áspera, o céu, lisa. Para fazer um retrato de alguém, o aluno conversa e, pela altura da voz, calcula a distância para close ou plano americano.
— Como eles conseguem manusear o equipamento?
Shayane - Começamos com câmeras digitais bem simples, e eles aprendem a localizar e usar os botões. Podemos colar adesivos na câmera para indicar diferentes funções.
No caso de smartphones, usam-se aplicativos de comandos de voz e, no computador, softwares vocais para a edição e a postagem. Os deficientes visuais são ativos também nas redes sociais e postam direto no Instagram. A posição em que usam as câmeras não é necessariamente diante dos olhos. Alguns as posicionam sob o queixo, para nivelar a imagem.
— Por que um deficiente visual desejaria fazer imagens que não poderá ver?
Shayane - Para eles, é uma questão de contextualizar e, também, de memória. Querem tirar fotos dos filhos para mostrar a outras pessoas. Também querem ser independentes ao criar suas próprias imagens em viagens. Há uma função social importante: ao fotografar, geralmente perguntam a quem está por perto o que há por ali, o que foi aquele som, o que está acontecendo, e tentam capturar o momento. Na hora de mostrar a terceiros, relembram os momentos. É uma forma diferente de fruição.
— Esse processo mudou você?
Shayane - Muito. Minha perspectiva da vida se transformou. Todos os dias, vi novas possibilidades de encarar a existência com perseverança. Uma aluna era costureira e, ao ficar cega, se reinventou como massoterapeuta. Mergulhou tanto na fotografia que quis comprar um equipamento profissional.
— E o curso em Niterói, quando vai começar?
Shayane - Ainda estamos planejando. Pretendemos, depois da Copa, iniciar um ‘crowdfunding’. A ideia é fazer um curso de três meses, com uma exposição dos alunos no fim.
[Crowdfunding’ - financiamento coletivo para arrecadação de fundos.]
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