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Por Hugo
Machín para Infosurhoy.com — 08/10/2010
Francisco Lopera luta há quase
três décadas contra doença mortal.
O neurologista colombiano Francisco Lopera pesquisa os efeitos do mal de
Alzheimer em membros de 28 famílias do departamento de Antioquia. (Cortesia de
Francisco Lopera)
MEDELÍN, Colômbia – O
departamento de Antioquia, na cordilheira dos Andes, tornou-se um centro de
referência na luta contra o mal de Alzheimer, uma doença incurável que destrói
o cérebro e as habilidades cognitivas, o que geralmente deixa o doente
dependente.
Os pacientes de Alzheimer vivem por anos com o mal, mas, com o passar do
tempo, a doença causa demência, que vai piorando até que a vítima perca sua
autonomia, o que geralmente a impede de viver independentemente.
As vítimas do mal de Alzheimer normalmente são maiores de 60 anos,
estimando-se um total de 26 milhões pessoas afetadas em todo o mundo – e esse
número pode chegar a 100 milhões em 2050 se não for descoberta uma cura,
segundo a Confederação Espanhola de Familiares de Enfermos de Alzheimer e
Outras Demências (CEAFA), uma ONG sediada na Espanha.
A única defesa para aqueles que sofrem de Alzheimer é medicação, que
apenas retarda os efeitos da doença.
Mas cientistas em todo o mundo estão em busca de uma cura – e estão
atentos ao trabalho desenvolvido pelo neurologista colombiano Francisco Lopera,
que coordena o Grupo de Neurociência na Universidade de Antioquia, em Medelín.
“Existem cerca de 50 produtos em desenvolvimento para o mal de
Alzheimer”, disse Lopera, um cientista de 59 anos que, há quase três décadas,
pesquisa os efeitos da doença em membros de 28 famílias de Antioquia que são
portadores de um tipo de Alzheimer não frequente, o genético.
“O que está acontecendo?”, perguntou Lopera. “É que muitos desses
produtos falharam no tratamento da doença. O que achamos? Que falharam porque
quando a doença já começou, os medicamentos não são eficazes.”
A mutação de Antioquia
Lopera, nascido no município de Aragón, no departamento de Antioquia,
disse que “o efeito fundador” do tipo genético do mal de Alzheimer teve
repercussões no departamento.
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“Foi semeada uma mutação, um dano genético no cromossomo 14, uma mutação
que chamamos de ‘mutación paisa’ (mutação nativa) e que foi descoberta há 15
anos”, disse ele.
Lopera e sua equipe rastrearam certidões de nascimento e documentos de
cartórios em todos os municípios da região e chegaram a localizar a data em que
o "efeito fundador” pode ter iniciado.
A pesquisa levou à conclusão que o primeiro caso de tipo genético do mal
de Alzheimer surgiu em 1750 em um parente de Javier San Pedro Gómez e María
Luisa Chavarriaga Mejía, de ascendência espanhola, explicou Lopera.
As 28 famílias de Antioquia geraram 5 mil descendentes e 50% deles
tornaram-se portadores do gene de Alzheimer, acrescentou Lopera. Desses descendentes,
100 vivem com o tipo genético desenvolvido do mal de Alzheimer e outros 500
devem desenvolver a doença no futuro.
“O que temos nessas famílias é a oportunidade de verificar se o fracasso
dos remédios contra o mal de Alzheimer foi por terem sido administrados tarde
demais”, disse Lopera. “Isso seria a primeira coisa a ser resolvida. A segunda
é que também há medicamentos sendo desenvolvidos que podem ser úteis somente se
utilizados nos estágios iniciais [da doença].”
Em 2004, Lopera recebeu da Universidade de Antioquia um prêmio por sua
pesquisa. Também foi agraciado com o Prêmio Aventis da Academia Nacional de
Medicina, em 2002, e com o Prêmio Nacional de Medicina Interna, em 1994, entre
outros.
“Esse ano, vamos ver que produtos serão usados em 2011 para começar os
primeiros testes clínicos de terapias preventivas”, disse ele.
Em 1982, quando Lopera realizava sua especialização em neurologia
clínica, em seu programa de residência, atendeu um paciente de Belmira, um
município localizado no norte de Antioquia, a cerca de 70 km de Medelín. O
homem de 45 anos tinha perdido a memória e tinha sintomas de demência
semelhantes aos do mal de Alzheimer, o que acabou por deixá-lo dependente de
outras pessoas.
“Isso é algo que é descrito em pessoas com mais de 65 anos”, disse
Lopera. “Além do mais, seu pai e avô tiveram o mesmo.”
Lopera viajou a Belmira para verificar a genealogia do paciente e, ao
confirmar que era hereditário, deu início à sua pesquisa.
Quem cuida das pessoas que sofrem do mal de Alzheimer?
“Não se esqueça de mim”, um projeto elaborado por Joseph Fitzgerald
Arboleda Velásquez, foi lançado em 2005 para oferecer oficinas para os parentes
de pacientes com mal de Alzheimer hereditário. Arboleda Velasquez estudou
medicina na Universidade de Antioquia e, mais tarde, tornou-se doutor em
doenças cerebrovasculares pela Universidade de Boston.
Os participantes das oficinas transmitem seu conhecimento para outras
pessoas que cuidam dos pacientes do mal de Alzheimer, nome dado à doença em
homenagem ao seu descobridor, o psiquiatra Aloysius “Alois” Alzheimer
(1864-1915).
A iniciativa, patrocinada pelo Ministério das Relações Exteriores de
Luxemburgo, pela Associação dos Rotarianos de Luxemburgo e pela Associação dos
Rotarianos de Medelín Ocidental, era supervisionada pelo médico e psiquiatra
Adolfo Ruiz Jiménez e Pierre Lutgen, um professor belga de físico-química, que
ensinava na Universidade de Antioquia.
“As pessoas nas áreas rurais (camponeses) e de famílias muito pobres são
mais sensíveis para cuidar de seus próprios doentes, a se comprometer
emocionalmente, a fazê-lo com amor. Ao contrário das pessoas da cidade, que, ao
se confirmar o Alzheimer, procuram [se desligar] desse familiar,” disse Ruiz
Jiménez.
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