terça-feira, 8 de julho de 2014

Alzheimer: neurologista colombiano busca cura para doença
Disponível em: http://infosurhoy.com/pt/articles/saii/features/society/2010/10/08/feature-01
Por Hugo Machín para Infosurhoy.com — 08/10/2010
Francisco Lopera luta há quase três décadas contra doença mortal.
O neurologista colombiano Francisco Lopera pesquisa os efeitos do mal de Alzheimer em membros de 28 famílias do departamento de Antioquia. (Cortesia de Francisco Lopera)
MEDELÍN, Colômbia – O departamento de Antioquia, na cordilheira dos Andes, tornou-se um centro de referência na luta contra o mal de Alzheimer, uma doença incurável que destrói o cérebro e as habilidades cognitivas, o que geralmente deixa o doente dependente.
Os pacientes de Alzheimer vivem por anos com o mal, mas, com o passar do tempo, a doença causa demência, que vai piorando até que a vítima perca sua autonomia, o que geralmente a impede de viver independentemente.
As vítimas do mal de Alzheimer normalmente são maiores de 60 anos, estimando-se um total de 26 milhões pessoas afetadas em todo o mundo – e esse número pode chegar a 100 milhões em 2050 se não for descoberta uma cura, segundo a Confederação Espanhola de Familiares de Enfermos de Alzheimer e Outras Demências (CEAFA), uma ONG sediada na Espanha.
A única defesa para aqueles que sofrem de Alzheimer é medicação, que apenas retarda os efeitos da doença.
Mas cientistas em todo o mundo estão em busca de uma cura – e estão atentos ao trabalho desenvolvido pelo neurologista colombiano Francisco Lopera, que coordena o Grupo de Neurociência na Universidade de Antioquia, em Medelín.
“Existem cerca de 50 produtos em desenvolvimento para o mal de Alzheimer”, disse Lopera, um cientista de 59 anos que, há quase três décadas, pesquisa os efeitos da doença em membros de 28 famílias de Antioquia que são portadores de um tipo de Alzheimer não frequente, o genético.
“O que está acontecendo?”, perguntou Lopera. “É que muitos desses produtos falharam no tratamento da doença. O que achamos? Que falharam porque quando a doença já começou, os medicamentos não são eficazes.”
A mutação de Antioquia
Lopera, nascido no município de Aragón, no departamento de Antioquia, disse que “o efeito fundador” do tipo genético do mal de Alzheimer teve repercussões no departamento.
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O mal de Alzheimer geralmente causa a total dependência dos que sofrem dessa doença debilitante. (Sebastien Bozon/AFP/Getty Images)

“Foi semeada uma mutação, um dano genético no cromossomo 14, uma mutação que chamamos de ‘mutación paisa’ (mutação nativa) e que foi descoberta há 15 anos”, disse ele.
Lopera e sua equipe rastrearam certidões de nascimento e documentos de cartórios em todos os municípios da região e chegaram a localizar a data em que o "efeito fundador” pode ter iniciado.
A pesquisa levou à conclusão que o primeiro caso de tipo genético do mal de Alzheimer surgiu em 1750 em um parente de Javier San Pedro Gómez e María Luisa Chavarriaga Mejía, de ascendência espanhola, explicou Lopera.
As 28 famílias de Antioquia geraram 5 mil descendentes e 50% deles tornaram-se portadores do gene de Alzheimer, acrescentou Lopera. Desses descendentes, 100 vivem com o tipo genético desenvolvido do mal de Alzheimer e outros 500 devem desenvolver a doença no futuro.
“O que temos nessas famílias é a oportunidade de verificar se o fracasso dos remédios contra o mal de Alzheimer foi por terem sido administrados tarde demais”, disse Lopera. “Isso seria a primeira coisa a ser resolvida. A segunda é que também há medicamentos sendo desenvolvidos que podem ser úteis somente se utilizados nos estágios iniciais [da doença].”
Em 2004, Lopera recebeu da Universidade de Antioquia um prêmio por sua pesquisa. Também foi agraciado com o Prêmio Aventis da Academia Nacional de Medicina, em 2002, e com o Prêmio Nacional de Medicina Interna, em 1994, entre outros.
“Esse ano, vamos ver que produtos serão usados em 2011 para começar os primeiros testes clínicos de terapias preventivas”, disse ele.
Em 1982, quando Lopera realizava sua especialização em neurologia clínica, em seu programa de residência, atendeu um paciente de Belmira, um município localizado no norte de Antioquia, a cerca de 70 km de Medelín. O homem de 45 anos tinha perdido a memória e tinha sintomas de demência semelhantes aos do mal de Alzheimer, o que acabou por deixá-lo dependente de outras pessoas.
“Isso é algo que é descrito em pessoas com mais de 65 anos”, disse Lopera. “Além do mais, seu pai e avô tiveram o mesmo.”
Lopera viajou a Belmira para verificar a genealogia do paciente e, ao confirmar que era hereditário, deu início à sua pesquisa.
Quem cuida das pessoas que sofrem do mal de Alzheimer?
“Não se esqueça de mim”, um projeto elaborado por Joseph Fitzgerald Arboleda Velásquez, foi lançado em 2005 para oferecer oficinas para os parentes de pacientes com mal de Alzheimer hereditário. Arboleda Velasquez estudou medicina na Universidade de Antioquia e, mais tarde, tornou-se doutor em doenças cerebrovasculares pela Universidade de Boston.
Os participantes das oficinas transmitem seu conhecimento para outras pessoas que cuidam dos pacientes do mal de Alzheimer, nome dado à doença em homenagem ao seu descobridor, o psiquiatra Aloysius “Alois” Alzheimer (1864-1915).
A iniciativa, patrocinada pelo Ministério das Relações Exteriores de Luxemburgo, pela Associação dos Rotarianos de Luxemburgo e pela Associação dos Rotarianos de Medelín Ocidental, era supervisionada pelo médico e psiquiatra Adolfo Ruiz Jiménez e Pierre Lutgen, um professor belga de físico-química, que ensinava na Universidade de Antioquia.
“As pessoas nas áreas rurais (camponeses) e de famílias muito pobres são mais sensíveis para cuidar de seus próprios doentes, a se comprometer emocionalmente, a fazê-lo com amor. Ao contrário das pessoas da cidade, que, ao se confirmar o Alzheimer, procuram [se desligar] desse familiar,” disse Ruiz Jiménez.



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