domingo, 13 de abril de 2014

20DICAS A QUEM QUEIRA AJUDAR ALGUÉM COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Introdução:

tendo em vista as campanhas a respeito da inclusão e responsabilidade
social tão na moda hoje em dia, muitas pessoas super bem intencionadas
estão fazendo grande confusão a respeito de como e quando ajudarem as
pessoas com deficiência e, sobretudo, no caso presente, as pessoas com
deficiência visual, as quais estão mais expostas ao envolvimento; isto
significa: delas, os outros podem aproximar-se sem pedir licença; podem
olhar para elas e observá-las à vontade, sem que sejam notados... pegam
nelas sem que tenham tempo de reagir e assim por diante. Portanto, na
tentativa de iluminar esta sociedade cheia de boa vontade, algumas
pessoas com deficiência visual, assistente social, fisioterapeuta e
professor, estudantes, resolveram trocar ideias e montar 20 dicas que
podem ser úteis. Antes de transmiti-las, apenas alguns esclarecimentos:
as pessoas com deficiência aqui referidas são pessoas que já adquiriram
relativa independência, que enfrentam desafios e tentam superar as
próprias limitações. As pessoas com deficiência, como as outras pessoas,
são diferentes entre si; cada uma tem sua própria história, suas crenças
e valores. Ainda há muitas que vivem à mercê de seus pais, cônjuges e
filhos e não podemos julgá-las. Força é algo interior e pessoal. Essas,
neste texto, não precisam ser consideradas. Estamos referindo-nos
àquelas que, com ou sem dificuldade, andam pelas ruas, trabalham, em
casa ou fora, possuem apenas a deficiência visual, estão inseridas em
grupos sociais, enfim, na medida do possível, buscam chegar bem perto do
comum das pessoas.

1ª - Se encontrar uma pessoa com deficiência visual na rua ou em
algum lugar público, não a conhecendo, jamais lhe pergunte, a
queima-roupa, onde vai ou onde quer ir. Esta pergunta é invasora e
indiscreta, sendo bem aceita apenas por conhecidos. Pergunte-lhe,
simplesmente: "Quer ou precisa de alguma ajuda?".

2ª - Se oferecer-lhe ajuda e ela não aceitar, não insista nem se
melindre com isto. Se, por um lado, você se sente no dever de ajudar,
por outro lado, ela tem o direito de não querer ser ajudada.

3ª - Se estiver sentado em um transporte coletivo e vir aproximar-se
uma pessoa com deficiência visual do seu lugar, com o intento de ser
gentil, você pode até perguntar se ela quer sentar-se, mas, caso ela lhe
agradeça e não queira a gentileza, não fique discutindo, alegando que é
perigoso ficar de pé, que ela poderá cair e tudo mais. Lembre-se de que
deficiência visual não é sinônimo de impossibilidade de equilibrar-se.
Para o equilíbrio, bastam as mãos e as pernas. A visão, neste caso, não
faz nenhuma falta. Além do mais, esses comentários abaixam a auto-estima
da pessoa. Assim, em vez de ajudar, você estará atrapalhando.

4ª- Não fique pedindo a terceiros que cedam seu lugar para a pessoa
com deficiência visual, porque, primeiramente, ela sabe falar por si
mesma, caso queira pedir algo; depois, você nem sabe se ela quer o
lugar, criando, assim, uma situação constrangedora para ela e para a
outra pessoa, sem pensar que você próprio poderá passar vergonha, no
caso dela ou da outra pessoa não concordar com você. Já houve brigas
feias por causa disto e não vale a pena!

5ª Jamais fale em nome de uma pessoa com deficiência visual. Ela é
capaz de expressar-se normalmente, sem a intervenção de terceiros. Se
quem está relacionando-se com a pessoa com deficiência insistir em
usá-lo como intermediário, educadamente, peça-lhe que se dirija, sem
medo, ao outro.

6ª - Quando estiver prestando alguma ajuda, jamais fique dizendo
frases de suposta solidariedade, como: "é duro não enxergar, né?", "Para
a gente que vê já é difícil; imagine para vocês!" Assim, em vez de
mostrar-se um bom companheiro, você estará colocando-se em uma posição
de superioridade, criando uma barreira entre si e seu auxiliado.

7ª - Quando estiver acompanhando uma pessoa com deficiência visual,
jamais fique insinuando que ela deveria ter um acompanhante. Se ela está
sozinha, é porque não está precisando de outra pessoa o tempo todo,
apenas de um facilitador para algumas situações, como em travessias
difíceis e tal facilitador, algumas vezes, pode ser você mesmo. Além
disto, você está ajudando porque quer e não tem o direito de ficar dando
opinião sobre o que ela deve fazer. Colaborar com alguém, de vez em
quando, seja no que for, é uma responsabilidade social.

8ª - Quando estiver andando ao lado da pessoa com deficiência
visual, não precisa ficar o tempo todo avisando-lhe subidas e descidas.
Ofereça-lhe o braço e, percebendo seus movimentos, ela o acompanhará sem
dificuldade. Aproveite para falar outros assuntos.

9ª - Jamais ofereça ajuda, sob o pretexto de que para a pessoa com
deficiência visual é difícil fazer o que quer que seja. É comum alguém
chegar à casa de uma pessoa com deficiência visual, principalmente
mulher, e querer tomar a frente nos serviços. Isto, em vez de gentileza,
é falta de respeito com a privacidade da outra pessoa, além de
subestimá-la.

10ª - Se possível, antes de tocar na pessoa com deficiência visual ,
cumprimente-a ou dirija-lhe alguma palavra. O toque, por mais bem
intensionado que seja, é muito invasor, principalmente, quando se trata
de quem não pode ver.
A invasão do toque pode estender-se também aos objetos de apoio
utilizados pelas pessoas com deficiência: bengala branca, moleta,
cadeira-de-rodas, etc. Há pessoas que dizem que pegam direto porque não
sabem o que falar. Digam-lhe apenas o motivo porque o estão tocando: um
buraco, um orelhão, uma caixa de correio, um carrinho de papel ou coisa
parecida, objetos que a bengala branca, às vezes, não identifica a
tempo.
Abrindo um parêntese: se o obstáculo não for demasiado perigoso,
como esses que foram citados, deixe a pessoa à vontade, porque, talvez,
aquilo seja até uma referência para ela, no caso de passar sempre pelo
mesmo lugar.

11ª - Não fique querendo ensinar às pessoas que não enxergam a fazer
as coisas. Elas têm seu próprio jeito e experiência, que podem, aliás,
ser até maiores que as suas. Portanto, mesmo que, dentro da sua razão,
você pense que há jeitos melhores, dê-lhes o direito de pensar
diferente.

12ª - Saiba que escada é obstáculo para cadeirantes ou pessoas que
usam moleta e não para pessoas com deficiência visual. Portanto, não
fique fazendo caminho mais longo em busca de rampas.

13ª - Quando ajudar uma pessoa com deficiência visual, não fique
dizendo-lhe que está fazendo-lhe um favor, ainda mais se a idéia de
ajudar tiver partido de você. Isto causa humilhação e até antipatia;
educadamente, desaprove quem ficar exaltando exageradamente seu gesto
nobre, na verdade, mas, não heróico.

14ª - Jamais fique insinuando que a ajuda sua ou de quem quer que
seja é indispensável, porque a pessoa com deficiência visual desenvolve
seus próprios recursos, com os meios que a natureza disponibiliza a
todos os seres. Só lhe falta a visão e, mesmo assim, os outros sentidos,
bem trabalhados e estimulados, substituem-na em vários aspectos.

15ª - Não trate a pessoa com deficiência visual com excesso de mimo
e com super proteção, como se estivesse lidando com uma criancinha ou um
doente. A limitação visual como qualquer outra, se bem trabalhada, torna
as pessoas fortes, desafiadoras, maduras e independentes, não
necessitando de excesso de cuidados. Além disto, é bom que se saiba que
super proteção é preconceito velado.

16ª - Não fique pegando na pessoa com deficiência visual, quando ela
estiver subindo ou descendo de um transporte coletivo. Isto só incomoda.
Aliás, falando em transporte coletivo, aqui vai uma recomendação
especial para motoristas e cobradores que atuam nesses ônibus comuns, ou
seja, aqueles que não são bi-articulados ou ligeirinhos: vocês não
precisam sair do seu posto para atenderem à pessoa com deficiência
visual. Se puderem, parem o ônibus o mais próximo possível dela. Se
houver mais de um ônibus que pare no mesmo lugar, digam qual é o que
está parando. Não precisam ficar avisando-lhe sobre os degraus, porque,
se ela anda sozinha, já está bem acostumada com a estrutura do
transporte.

17ª - Não torne a limitação de quem não enxerga ou enxerga pouco
maior do que é, querendo fazer para ele ou por ele o que pode fazer
sozinho. Exemplo: é comum, quando precisa abrir ou fechar uma porta ou
portão, alguém correr à sua frente para fazer isto para ele e, muitas
vezes, além de não ajudar, acaba atrapalhando.

18ª - Evite alguns gestos que só prejudicam: puxar o braço da pessoa,
sobretudo, apertando, como para segurá-la. Isto descoordena todos os
movimentos e até machuca; ficar empurrando-a pelas costas ou passando o
braço por trás. Pode ser até carinhoso, mas é incômodo, pelo menos para
a maioria das pessoas.

19ª - Cuidado com certas perguntas ou comentários enquanto ajuda,
coisas que você não diz a pessoas estranhas: "Está indo dar uma
passeadinha", "Passeando a esta hora?" Comentários como estes podem ser
até inocentes, mas, com certeza, você não os faria para outras pessoas.
Em outras palavras: você quer dizer que pessoa com deficiência não
trabalha nem tem grandes compromissos; portanto, pode passear a qualquer
hora. Caso queira mesmo ter um diálogo, pergunte como o faria com as
outras pessoas: "você trabalha? Estuda?" A-demais, ficar perguntando a
alguém se está indo passear, salvo, talvez, em um final de semana, pode
até magoar, porque, às vezes, a pessoa está indo resolver uma situação
triste e está bem chateada.

20ª - Esta não é uma dica, mas uma reflexão: as pessoas precisam
entender que excesso de ajuda e proteção humilha. Portanto, não é
sinônimo de boa educação. O excesso de zelo constrange e tira a
liberdade, por mais bem intensionado que seja. Portanto, não se assuste
se, às vezes, a pessoa com deficiência trata você com uma certa dureza.
Ela está apenas tentando ser respeitada em sua dignidade pessoal a qual
você está violando, quando a trata como uma coitadinha, uma inválida ou
incapaz. Nem mesmo uma criança em pleno juízo gosta de ser tratada
assim. O verdadeiro amor ao próximo é aquele que cria nele confiança,
liberdade e auto-determinação. Quem trata os outros com excesso de
proteção, na verdade, não está em uma relação de ajuda, mas de poder e
manipulação. Está usando o outro e até abusando dele.
Enfim, ao ler isto, você pode estar até pensando que é muito
complicado; que a pessoa com deficiência visual é muito melindrosa e que
é melhor nem tentar ajudá-la. Isto não é verdade. É que ela tem os
mesmos sentimentos que os outros seres humanos. Se você puser sua
imaginação para funcionar, vai entender. Você gostaria de que, sem você
poder ver, alguém lhe agarrasse ou apertasse o braço sem dizer nada?
Você fica contente, quando alguém lhe diz que você é incapaz de fazer
alguma coisa, quando tem certeza de que é capaz? Você gosta de opiniões
alheias, quando não as pediu? Então: saiba que a pessoa com deficiência
visual enfrenta essas coisas diariamente e, quando, lá uma vez ou outra,
perde a paciência por ser tão desrespeitada em sua privacidade e
dignidade, chamam-na "revoltada", "ingrata", "complexada," "ignorante".
Pense nisso; mas pense agora.

Maria do Carmo Santiago
 
 

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