domingo, 27 de outubro de 2013

*Avaliação da educação inclusiva*

Em uma iniciativa inédita na história da área de Educação Especial no
Brasil, um grupo formado por mais de 200 pesquisadores está trabalhando de
forma conjunta, no Observatório Nacional de Educação Especial (ONEEsp),
criado em 2010 e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes). O Observatório é uma rede de pesquisa
que envolve 24 universidades de 18 Estados do País, sob coordenação de
Eniceia Mendes, docente do Departamento de Psicologia (DPsi) da UFSCar.
Entre os integrantes da rede estão professores e estudantes de graduação e
pós-graduação, espalhados por 59 municípios. O objetivo é mapear de forma
integrada a educação de estudantes com deficiências e, atualmente, o grupo
avalia o programa de implantação de serviços de apoio do Ministério da
Educação (MEC).

Até a década de 1960, a Educação Especial no Brasil acontecia primeiramente
em escolas filantrópicas e particulares e, depois, em classes especiais
dentro das escolas regulares da rede pública de ensino. Há apenas poucos
anos teve início a construção da Educação Especial nos moldes conhecidos
atualmente, com integração entre o ensino regular e a Educação Especial. No
entanto, embora projeções indiquem que o País pode ter de 5 a 10 milhões de
pessoas em idade escolar com deficiências, segundo o Ministério da Educação
apenas 700 mil estão matriculadas nas escolas públicas brasileiras.

Em seu estudo inaugural, realizado há três anos e com previsão de término
em 2014, os pesquisadores do ONEEsp trabalham com o objetivo de produzir
conhecimento em larga escala para avaliar se as políticas de Educação
Especial em implantação são efetivas ou não e, também, para definir
caminhos que possam ser tomados para aprimoramento dos processos de
inclusão escolar. Especificamente, o Observatório analisa a implantação das
Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) em escolas públicas das redes de
ensino. Oferecidas pela Secretaria de Educação Especial do MEC, hoje já são
mais de 15.500 SRMs em todo o País, divididas entre cerca de 4.500
municípios brasileiros. Para implantação das SRMs, é disponibilizado às
escolas um conjunto de equipamentos de informática, mobiliários, materiais
pedagógicos e de acessibilidade para a organização do espaço de atendimento
educacional especializado.

Para o estudo do Observatório, foram realizadas entrevistas com mais de
2.500 professores das SRMs. Eniceia Mendes conta que a primeira etapa foi a
avaliação de como as crianças são identificadas. Segundo a pesquisadora,
percebe-se que as escolas têm dificuldade de identificar crianças com
deficiência intelectual ou superdotação, devido à falta de diretrizes. "Há
dificuldade também com relação à avaliação para o planejamento do ensino
desses alunos, de modo que a estadia deles na sala de aula comum e nas
salas com recursos multifuncionais tenha um projeto de escolarização
integrado", relata Mendes. Apesar de ainda estar em andamento, a pesquisa
também aponta problemas na avaliação do rendimento, já que as escolas não
realizam provas adaptadas. "Muitas escolas acham que a criança com
deficiência intelectual está na sala de aula apenas para socializar, e não
para aprender", conta a coordenadora do Observatório.

Outro eixo pesquisado foi a formação de professores para a Educação
Especial. Atualmente, no Brasil, há apenas dois cursos de licenciatura em
Educação Especial, sendo um oferecido pela UFSCar e outro pela Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), e apenas um programa de pós-graduação,
também oferecido pela UFSCar. "Faltam professores para trabalhar com essas
crianças e os educadores que trabalham não estão preparados, pois não há
opções de formação no Brasil. Os próprios professores não se sentem aptos a
ensinar essas crianças nas salas de recursos", afirma Mendes. Segundo ela,
sem nenhum padrão previsto, cada professor pode trabalhar da maneira como
achar melhor nas SRMs. Além disso, um dos desafios encontrados diz respeito
à diversidade do público, já que, nas salas, o professor atende alunos com
deficiências variadas. "O professor não sabe o que fazer para complementar
a escolarização das crianças. Uns trabalham com atividades lúdicas, outros
preferem ensinar atividades diárias, como comer e lavar as mãos", relata
Eniceia.

Com a coleta de dados concluída, agora os pesquisadores estão
sistematizando o conjunto de informações recolhidas. O projeto do
Observatório, segundo a coordenadora, é apontar o problema e sua solução.
"Se nós ficarmos só na denúncia, não contribuímos com a área e com o avanço
em relação ao direito à educação dessas crianças. O Observatório, como se
aproxima muito dos professores e da rede pública, consegue identificar as
demandas de formação e, também, como a universidade pode contribuir",
conclui Mendes.

Mais informações sobre o Observatório, incluindo documentos produzidos por
seus pesquisadores, podem ser consultado no site do projeto,
emwww.oneesp.ufscar.br

Fonte: UFSCAr


http://sentidos.uol.com.br/canais/materia.asp?codpag=14354&canal=ligado

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