RELATO
DO ESTUDO DE CASO
A
aluna G. M. com 9 anos, cursando o 6º ano evidencia grande capacidade de
concentrar-se na realização de atividades de seu interesse; prefere empenhar-se
em atividades coletivas como discussão de um tema, projetos e produção de
relatórios.
Tem
preferência por estudar sozinha em algumas ocasiões: leitura de um livro,
estudo de um tema escolhido/ elaboração de projeto. Contudo, solicita a
orientação do professor sempre que necessita, articulando com facilidade e
rapidez as ‘dicas’ dadas. Apresenta resistência a regras impostas,
especialmente quando percebe que as mesmas prejudicam o grupo e contrariam o
seu senso de justiça. É perfeccionista, demonstra insatisfação nas atividades
rotineiras da escola e frustração diante de seus próprios erros. Apresenta
impulsividade e maior sensibilidade para as vivências afetivas.
Gosta
de participar oralmente opinando espontaneamente ou quando interrogada
diretamente. Concentra-se em exposições orais feitas pelo professor, colegas ou
palestrantes, bem como em atividades individualizadas. Envolve-se em dramatizações,
simulações e jogos didáticos demonstrando satisfação e facilidade de
assimilação dos conteúdos abordados.
Apresenta
excelente raciocínio verbal e/ou numérico, habilidade de generalizar,
transferir aprendizagens, perceber relações, abstrair e lembrar-se de
informações, bem como um vocabulário rico e avançado. É criativa e demonstra
disposição para experimentar propostas desafiadoras.
A
estudante destaca-se pela inteligência e rapidez de raciocínio; é bem
determinada em sua área de interesse, empenhando-se e envolvendo os colegas
quando em equipe. Comunica-se bem oralmente e por escrito. É curiosa,
autoconfiante e demonstra satisfação em buscar informações e ao alcançar os
objetivos pré-fixados.
Apresenta
um distanciamento de seus pares relacionando-se melhor com pessoas mais velhas.
Se expressa muito bem, organiza as tarefas e é respeitada pelos seus pares.
ANÁLISE
DO ESTUDO DE CASO
Dentre
alguns aspectos relacionados ao caso em análise é possível pontuar:
-
A aluna aos nove anos de idade cursa o 6º ano estando de certo modo adiante em
termos de seriação ano/idade, em relação boa parte dos alunos matriculados no
ensino regular, e com aproveitamento diferenciado no que tange ao aspecto
acadêmico;
-
A aluna se sente motivada ao estudar sozinha, sobretudo, diante do objetivo de
elaborar idéias específicas ou organizar planejamento de algum projeto;
-
Indica fazer associações próprias, apresentando elaborações de pensamento
independente, diante do que lhe é sinalizado no processo em estudo;
-
Apresenta raciocínio verbal com manipulação simbólica acima do usual, fazendo
associações inusitadas tendo excelência no campo linguístico;
-
Insatisfação diante das atividades rotineiras, tendo como contraponto certo
perfeccionismo que a leva à frustração diante dos equívocos cognitivos;
-
Interesse pelo sentimento das pessoas e indignação frente às injustiças;
-
Distanciamento das crianças da sua idade, buscando o contato com pessoas mais
velhas, intelectualmente e emocionalmente receptivas.
Características
comportamentais, tipo de superdotação, área de interesse, potencialidades,
dificuldades e estilo de aprendizagem:
Além
de postura madura no que se refere à natureza moral e relações interpessoais, a
aluna apresenta características que abrange elementos, tais como: receptividade
ao outro, ótima comunicabilidade; iniciativa na busca por resolução de
problemas, excelente sistematização do conhecimento, criatividade e
expressividade interessantes, alto nível de atenção à tarefa; apresenta
preservação da individualidade sem prejudicar seu excelente nível de
cooperação; automotivada e com alto nível de liderança.
As
dificuldades se concentram na resistência em atender às regras impostas; diante
do perfeccionismo, frustração quanto aos próprios erros, alguma impulsividade e
emotividade, bem como distanciamento dos seus pares.
O
seu comportamento sinaliza para uma combinação de traços que envolvem altas
habilidades/desempenhos nos seguintes campos (De acordo como os Tipos
Característicos de Superdotação – MEC/1994): Intelectual com flexibilidade e
fluência de pensamento associativo, lingüístico, ideativo, simbólico,
conceitual e criativo; revela pontos importantes na área acadêmica, pois
demonstra envolvimento ao se aprofundar em conhecimentos a fim de atingir
objetivos pré-fixados.
Diante
de um raciocínio inovador, apresenta potencialidades para um talento especial
nas artes literárias, dramáticas, plásticas, sendo observado um tipo de alta
habilidade que envolve as inteligências criativas e sociais.
Seu
estilo de aprendizagem indica para certo autodidatismo, contudo, com pontuações
importantes e necessárias por parte do (a) mediador (a). Visto que a aluna se
sente motivada diante das assertivas, daquilo que lhe é verbalizado, das discussões,
etc. Sendo importante para atingir metas anteriormente definidas.
Em
termos de estilo cognitivo da aprendizagem, a aluna manifesta (ao aproximar-se
do objeto do conhecimento) a utilização dos campos visual e cinestésico, porém,
com importante sinalização para o campo auditivo e secundariamente indica a
utilização do campo visual como um dos canais de apreensão do conhecimento.
Manifesta um avançado resultado acadêmico diante de um planejamento de aulas
bem definido, estimulante e motivador.
Atividades
pedagógicas e/ou serviços a serem disponibilizados aos alunos com AH/SD:
Em
linhas gerais um (a) aluno (a) com altas habilidades/superdotação, poderá
expressar sentimentos e expectativas elevadas com relação ao espaço
sistematizado de aprendizagem (escola) bem como a metodologia e didática
envolvidas no trabalho.
No
caso em estudo é necessário por parte do (a) mediador (a) um olhar bastante
diferenciado, visto que é imprescindível um trabalho que estimule a
criatividade e motive a aluna no seu desejo de estar no espaço acadêmico.
Contemplar a abordagem pedagógica por projetos com temáticas diversas,
vislumbrando as áreas de interesse da aluna.
Além
das produções com portadores de texto diversificados, que viabilize a
multidisciplinaridade/interdisciplinaridade/transdisciplinaridade e promova
questões desafiadoras nas áreas científicas, quanto à resolução de problemas,
análises de raciocínio lógico-matemático, dentro de um contexto pertinente,
pontuados no cotidiano, expressos no pensamento e hábitos comuns; pesquisas e
debates dentro de eixos temáticos pautados por exemplo, nas Ciências da Vida
(biológica, psicológica, filosófica, social) e/ou nas relações pertinentes ao
Universo geralmente trazem grande prazer e promovem aprofundamentos
significativos no campo da cognição; expressão artística, promoção de estudos
de campo com proposta de observação diferenciada e relatos de casos, atividades
que explorem o raciocínio criativo, pensamento intuitivo e a inovação do
pensar. A construção de portfólio se faz necessária visto que a aluna poderá
sentir-se autora do seu conhecimento e com condições de auto-avaliar,
juntamente com o(s) / a(s) mediadores (as), os avanços e redirecionar-se melhor
na aquisição e implementação de novos conceitos.
São
exemplificações do que pode ser planejado, estruturado de forma a atender as
particularidades da aluna. Que indica fortemente necessidade de mediação no
campo da inteligência criativa, bem como estímulo na flexibilidade do
pensamento e quanto aos julgamentos diante das regras e normas de conduta
(autocrítica exacerbada).
É
importante o encaminhamento para uma equipe interdisciplinar com intervenções
pedagógicas dentro de estratégias que promovam respostas criativas ressaltando
as possíveis habilidades, potencialidades da aluna, orientando os professores
quanto às especificidades demonstradas, possibilitando assim, a maximização do
seu desenvolvimento integral.
Diante
das sugestões quanto às medidas de intervenção, o Atendimento Educacional
Especializado (AEE) sinaliza:
Importante
que aluna seja desafiada e que lhe sejam apresentadas atividades que estimulem
a persistência nas tarefas, além de promover momentos de estudo focados na
troca de idéias como produto final.
Um
plano de trabalho individual é interessante já que é norteado no pressuposto de
que cada necessidade traz a sua singularidade e também a complexidade vivida
por cada sujeito diante da manifestação das suas potencialidades.
Promoção
de um ambiente que favoreça o aprendizado significativo _ laboratórios, museus,
bibliotecas, exposições artísticas e científicas, etc._ com uma atuação docente
que evite sentimentos de supervalorização ou rejeição de idéias, além de
atividades de apoio paralelo, com Professor de Recursos, para que a aluna
mantenha a motivação, ajude-a no avanço das suas potencialidades e no alcance
dos seus objetivos. Neste contexto, oportunizar atividades específicas de
aprofundamento, criação e enriquecimento das suas habilidades, num salto
qualitativo, através de estudos de campo, intervenções e análise de vários
assuntos.
Oportunizar
um plano de trabalho em Sala de Recursos é uma experiência engrandecedora e de
enorme ressignificação (inclusive para os profissionais envolvidos) visto que
normalmente, diante da disponibilidade e conhecimento do professor, alunos
perfil em altas habilidades/superdotação sentem-se valorizados, sobretudo,
motivados em atingir a maestria nos seus desempenhos.
Recomendações:
A
aluna em questão apresenta alta habilidade com traço criativo, pois, é visível
no comportamento, expresso em diferentes linguagens (falada, gestual,
matemática, interpessoal, teatral). Alternativas pedagógicas que a auxiliem no
seu crescimento integral envolve um trabalho em sala de aula, tomando como base
um plano diferenciado que favoreça as habilidades e promova o crescimento das
suas potencialidades. Além de a possibilidade de
intervenção/mediação/orientação com Professor de Recursos.
Parecer
técnico-pedagógico embasado na Teoria dos Três Anéis de Renzulli:
Tomando
como base a política de inclusão defendida pelo Ministério da Educação (2005),
flexibilizações curriculares e instrucionais devem ser consideradas a partir de
cada situação particular e não através de generalizações. Assim, considerando a
proposta educacional de princípios voltados para o respeito à diversidade, à
equidade e à dignidade no que tange a uma educação de qualidade. Urge que se
promova um ambiente educacional que esteja preparado para reconhecer, intervir
e estimular o potencial promissor dos alunos com altas
habilidades/superdotação.
É
importante salientar do avanço obtido nesse âmbito quando a iniciativa pública,
desenvolvida a partir de 2005 no âmbito da SEESP/MEC, em parceria com a UNESCO
e o FNDE, oferecem a implantação dos Núcleos de Atividades de Altas
Habilidades/Superdotação (NAAHs) nos 26 estados e no Distrito Federal, que hoje
se constituem em referência para o atendimento dessa população.
Mais
recentemente, já em 2008, ressalta a elaboração, por grupo de trabalho de
especialistas convidados pelas autoridades oficiais, e a divulgação, pelo MEC,
do Documento Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva (BRASIL, 2008), em que os alunos com altas habilidades/superdotação
são definidos como alvo de atendimento educacional especializado em todas as
etapas e modalidades da Educação. Dentre outras importantes medidas e decretos
anteriores a Resolução 04 de outubro de 2009 traz a implementação do Dec. nº
6.571/2008, que institui Diretrizes Operacionais para o atendimento Educacional
Especializado na Educação Básica, modalidade da Educação Especial.
Inúmeras
e específicas são as abordagens epistemológicas sobre o tema Superdotação,
sobretudo, quando se toma como referência os outros países.
O
modelo de enriquecimento proposto pelo educador norte-americano Joseph Renzulli
(EUA), renomado pesquisador do Centro Nacional de Pesquisas sobre Superdotação
e Talento da Universidade de Connecticut no EUA, adotado no Brasil, pela
Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação, foi idealizado com o
objetivo de tornar a escola um lugar onde os talentos fossem identificados e
desenvolvidos. Fornece um programa de enriquecimento curricular que pode ser
adotado não somente com alunos que apresentam altas habilidades/superdotação,
mas também nas salas de aulas regulares. A concepção dos três anéis, proposta
por Renzulli (1978, 1986, 1994), concebe superdotação como resultado da
interação de três fatores:
•
Habilidade acima da média
•
Envolvimento com a tarefa
•
Criatividade
Habilidade
acima da média envolve tanto as habilidades gerais, que consistem na capacidade
de processar informações, de integrar experiências que resultam em respostas
adaptativas e apropriadas a novas situações e na capacidade de se engajar em
pensamento abstrato (por exemplo, pensamento espacial, memória e fluência de
palavras), quanto as habilidades específicas, que consistem na capacidade de
adquirir conhecimento e habilidade para atuar em uma ou mais atividades de uma
área especializada (tais como química, matemática, fotografia, escultura etc).
O
segundo anel, envolvimento com a tarefa, se refere aos altos níveis de
interesse, entusiasmo e fascínio na execução de uma atividade ou resolução de
um problema. Neste sentido, o indivíduo envolvido com a tarefa estabelece um
padrão de excelência de desempenho, desenvolve um senso estético acerca de seu
trabalho e dos outros e pode ser descrito como perseverante, dedicado,
autoconfiante, esforçado, trabalhador árduo e consciente de estar desenvolvendo
um trabalho importante.
O
terceiro anel, criatividade, diz respeito à fluência, flexibilidade e
originalidade de pensamento, abertura a novas experiências, curiosidade,
sensibilidade a detalhes e ausência de medo em correr riscos.
É
necessário salientar que os anéis não precisam estar presentes ao mesmo tempo,
ou se manifestar na mesma intensidade, ao longo da vida produtiva. O mais
importante é que eles estejam interagindo em algum grau, para que um alto nível
de produtividade criativa possa emergir (RENZULLI, 1986). Renzulli e Reis
(1997) reconhecem que algumas habilidades e características associadas a
superdotação podem se manifestar apenas quando o aluno estiver engajado em
alguma atividade ou área de interesse.
Neste
sentido, Renzulli (1978, 1986) defende a idéia de que deve haver uma mudança no
enfoque das definições de superdotação de “ser ou não ser superdotado” para
“desenvolver comportamentos superdotados”. Assim, a visão de superdotação como
um fenômeno inato e cristalizado seria substituído por uma visão mais dinâmica
e flexível, levando-se em consideração a importância da interação entre
indivíduo e ambiente no desenvolvimento de comportamentos superdotados.
O
caso da aluna em análise apresenta características comportamentais de uma
criança com altas habilidades, como foi sinalizado anteriormente. Um exame
específico, com enquadramento na Teoria dos Três Anéis, logo poderá apontar
para um diagnóstico positivo, visto que os aspectos como: habilidade acima da
média, envolvimento com a tarefa e criatividade são elementos que preponderam
no histórico pessoal e acadêmico da aluna.
Portanto,
cabem medidas que alicerce o desenvolvimento de trabalho um
pedagógico/psicopedagógico com professores capacitados, bem orientados e uma
equipe multidisciplinar com condições de orientar e intervir para o
desenvolvimento integral dessa aluna e de outros alunos que mesmo não
apresentando características, habilidades similares tenham apoio e mediação
adequada ao crescimento cognitivo/afetivo e na evolução das suas potencialidades.
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