quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Fernando Capovilla
Bons amigos me perguntaram sobre as relações entre dislexia, TDAH, surdez, sobre o que é devido ao método, aos quadro, e ao idioma.
Tomemos a dislexia do desenvolvimento, por exemplo. Embora haja uma lesão orgânica congênita de natureza hereditária, sua manifestação pode ser não apenas prevenida (pelo método fônico) como, também, modulada fortemente pelo idioma do país em que vive a criança disléxica! Para uma mesma lesão na mesma área e em mesmo grau, a manifestação da dislexia é muitíssimo mais severa em países francofônicos e anglofônicos do que nos de fala alemã, italiana, espanhola. Então, é um quadro orgânico, sem dúvida, mas um quadro que interage fortemente com a nacionalidade por causa das rels entre os mundos da fala e da escrita dos diversos países (as relações graf-fon e fon-graf do idioma que a criança tem de dominar para conseguir ler e escrever fluentemente). É por isso que nos dedicamos tanto a quebrar o enigma da (de)cifrabilidade do código do Português! Agora que o fizemos, as perspectivas são excepcionalmente promissoras! Então, dislexia, TDAH, surdez são condições orgânicas, sim, mas são muito mais do que isso. São muito fortemente moduladas pela cultura, pelo método, pelo idioma e pelos mecanismos de processamento da linguagem. Dislexia e TDAH são quadro nosológicos bem definidos, de etiologia orgânica, mas também de forte modulação ambiental. E essas condições ambientais são parte do escopo de atuação do psicólogo e psicopedagogo, bem como do fonoaudólogo. Em suma, são fenômenos multideterminados, com um enorme espaço de intervenção, que deve ser adequada a cada cruzamento de características na matriz. Não se exclui nada, tudo se completa. Não me parece haver qualquer objeção possível a este raciocínio que temos desenvolvido em nosso Paradigma: o da Lógica Matricial. Na área de surdez é precisamente a mesma coisa. A língua e o processamento da linguagem são as variáveis mais poderosas, podendo até mesmo distinguir entre surdez e deficiência auditiva em sua natureza. Deixamos isso bem claro nos diversos capítulos da enciclopédia, quando analisamos questões cruciais como: porque será que o método oralista é chamado de Método Alemão? E porque foi instituído no Congresso de Milão (IUtália)? E porque o sinalismo é o Método Francês? E porque Jacobo Pereire teve sucesso em alfabetizar surdos na Espanha e flagrante fracasso na França? Os dados coalescem para revelar os mesmos efeitos, e sempre o mesmo fator: Idioma. É por isso que temos nos dedicado tanto em criar e expandir e aprimorar nosso Paradigma de Linguagem baseado nas Neurociências Cognitivas, mapeando todas as relações possíveis e imagináveis entre os universos da fonia, da grafia, da sematosemia, da lalia, da acustilalia, da fanerolalia, da esteselalia, da fanerossematosemia, da estesessematosemia, do léxico de sinais, da estrutura morfossintática do Português e da Libras e de suas relações múltiplas, e assim por diante: Simplesmente porque a língua (em suas diversas formas oral, escrita e de sinais) é a mais essencial de todas as chaves disponíveis para acessar e expandir a mente humana e, com ela, o universo.

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