sábado, 31 de agosto de 2013

APAE – Búzios, Formações Clínicas Campo Lacaniano-RJ
Fórum do Campo Lacaniano do Rio de Janeiro

(com apoio do Curso de Psicologia da Universidade Veiga de Almeida - Campus Cabo Frio)
convidam para a I Jornada sobre:
Local:
Centro de Convenções Pousada Pedra da Laguna
Praia da Ferradura - Tel. (22) 2623-2569/2623-1965
Autismo, um debate atual: o sujeito em pleno direito
dia 28 de setembro
Em 1911, Eugen Bleuler (1857-1939), psiquiatra suíço, criou o conceito de ‘autismo’ para nomear um sintoma da esquizofrenia, por ele descrito como a criação de um mundo feito exclusivamente da realização de desejos. Mas ainda teríamos de esperar muitos anos até que se começasse a falar em autismo infantil precoce. Pois somente em 1943, portanto trinta e dois anos depois, Leo Kanner (1894-1981) descreveria o quadro clínico do “distúrbio autístico do contato afetivo” em que se observa um retraimento severo desde os primeiros meses de vida. Kanner referiu-se às crianças que revelam sinais de isolamento extremo e falta de apego ao ambiente, apresentam ecolalias ou mantém-se em silêncio, evitam fixar o olhar nos outros, enfim, parecem recusar-se à comunicação com os semelhantes.
Em 2013, estamos comemorando os setenta anos do trabalho pioneiro de Kanner. É certo que ele não foi o único a se debruçar sobre o autismo infantil. Psicanalistas de diferentes países, que atendiam crianças, também o fizeram. Entre eles: Margareth Mahler (1900-1985), na Áustria e nos Estados Unidos, Francis Tustin (1913-1994), primeiramente na Inglaterra, depois nos Estados Unidos e novamente na Inglaterra, e Rosine e Robert Lefort, psicanalistas franceses que estiveram em diferentes países da Europa e da América do Sul, falecendo, ambos, em 2007. No entanto, apesar de muitos, o trabalho audacioso de Melanie Klein (1857-1939) merece certamente um destaque especial. Com a publicação do caso Dick, em que ela defendia a possibilidade de analisar uma criança bem pequena e diagnosticada como esquizofrênica, Melanie propôs o que hoje se considera como o primeiro tratamento de uma criança autista dos anais da Psicanálise.
Desde então, teve início uma polêmica. Educadores, médicos, psicanalistas e outros profissionais que trabalham com crianças não cessaram de se interessar pelo tema, porém com múltiplas abordagens. Jacques Lacan (1901-1981) chamou a atenção para a leitura relativamente simplista que alguns psicanalistas haviam feito das relações “papai, mamãe e neném”, calcadas em figuras imaginárias e na concepção de que os pais são os principais culpados pelo autismo de seus filhos. Criou-se, assim, a figura mítica da “mãe do autista.” Mas o determinismo psíquico é inconsciente e a transmissão de uma a outra geração escapa à lógica da culpa direta. O que está em jogo é a relação do sujeito com o Outro da linguagem, mesmo para aquele que não fala. Pois, se “o momento em que o desejo se humaniza é também aquele em que a criança nasce para a linguagem”, conforme as palavras de Lacan, em 1953, então o sujeito autista é o ser humano por excelência, aquele que se detém nas portas da alienação aos significantes do Outro. As palavras lhe pesam tanto, ele as toma com tamanha seriedade, que já não pode usá-las. Mas não é essa a única característica de um autista. Ele deve ser ouvido em sua singularidade de sujeito, de sujeito em pleno direito ao exercício de todas as suas funções.
Em tempos atuais, o número de pessoas que só se comunicam com as máquinas - notebooks, netbooks, ipads, tablets e ainda outras - ou que as utilizam como anteparo para se aproximar do outro semelhante é incomensurável. O número de amigos invisíveis e virtuais constituídos nas redes sociais é sempre tão fantástico e exagerado que lembra as aventuras do “Barão de Münchhausen, o maior mentiroso do mundo”, personagem que se equilibra entre a realidade e a fantasia. Acionada e atuada de forma virtual, a fantasia dispensa o contato com o real que a presença do outro impõe. A máquina se interpõe entre o sujeito e o semelhante, como elemento simultaneamente facilitador e separador, objeto que encobre e mascara a subjetividade. “Que não haja sujeitos!”, é o que ordena o discurso do capitalista, enquanto faz avançar a prática de uma pedagogia ortopédica que visa treinar o autista de forma a adaptá-lo ao socius.
O enigma diante do desejo do Outro, sempre inquietante, é inerente a todo ser de fala, mas não há respostas prontas, menos ainda universais. No entanto, podemos dizer que, enquanto alguns recalcam a Outra cena e olham para o mundo da janela de sua própria fantasia inconsciente, outros recorrem ao delírio, para recuperar o laço social. Mas o que acontece com os sujeitos autistas? Existe reconciliação com o mundo para eles?
É urgente atualizarmos a discussão sobre o diagnóstico e o tratamento do autismo, à luz das antigas e novas teorias. É mister discutirmos a utilização que os sujeitos vem fazendo de objetos cada vez mais complexos e, em certo sentido, mais particulares. Embora produzidos no mundo exterior, de onde são extraídos, os objetos trazem à cena o inconsciente de cada sujeito. Um exemplo clássico é a “máquina de Joey”, descrita por Bruno Bettelheim (1903-1990), ou ainda a “máquina do abraço” descrita na autobiografia de Mary Temple Grandin (1947), diagnosticada como “autista de alto funcionamento”, por ter revolucionado as práticas para tratamento racional de animais em fazendas e abatedouros.
Para que servem esses objetos? Por que os autistas têm tanto apego a eles? São objetos que entravam ou favorecem o desenvolvimento do autista? São eles vetores de uma abertura ou de um fechamento do inconsciente? Uma imposição do discurso capitalista ou um recurso de subjetivação, aos moldes do “objeto transicional” de Donald W. Winnicott (1986-1971) e do “objeto a” de Jacques Lacan?
É fato que os autistas apresentam uma profusão de condutas que não compreendemos, mas que comunicam algo. Podemos citar o tão frequente hábito de taparem os ouvidos com as mãos, como forma de dizer que não querem mais ouvir. Em 1974, na cidade de Genebra, Lacan pronunciou uma conferência sobre o sintoma. Indagaram-lhe sobre o tratamento dos autistas, e ele então lembrou que os autistas têm algo a nos dizer, e que é preciso que nós também tenhamos o que lhes dizer. Pois, se emitem “signos congelados”, aqueles que souberem compartilhar tais signos, compartilharão “momentos criativos da vida”. Pois somente o desejo pode legitimar uma “abnegação”, ou melhor, uma prática de cuidados que, sem desejo, seria necessariamente vivida pelos autistas como um intrusão aniquiladora. Um desejo nunca é um cuidado anônimo.
Convocamos todos ao debate e à legitimação da criança autista como um sujeito em pleno direito.
Elisabeth da Rocha Miranda (Vice-Presidente de FCCL-Rio)
Vera Pollo (Coordenadora do Fórum Rio)

Inscrições:
Até 15 de setembro:
Profissionais R$70, 00 e Estudantes R$50,00
No local:
R$100,00
Formas de pagamento
Sede de FCCL-Rio ou depósito bancário em nome de:
Formações Clínicas do Campo Lacaniano-RJ
Banco Itaú Agencia: 8395 C/C. 01025-2
Enviar comprovante do depósito para a sede de FCCL-RJ
Rua Goethe 66 –Botafogo – email: secretaria@fcclrio.org.br

Telefones: (21) 2537-1786 /2286-9225


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